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Apontamentos sobre o 2025 Crypto Crime Report da Chainalysis

O “2025 Crypto Crime Report” da Chainalysis, traz uma análise detalhada sobre a evolução das atividades ilícitas no ecossistema dos ativos virtuais. Ao mesmo tempo em que destaca os desafios decorrentes da sua crescente adoção como instrumentos facilitadores de uma variedade de práticas ilícitas, o relatório ressalta que a transparência inerente às transações que utilizam tecnologia blockchain se consolida como um recurso estratégico para o trabalho investigativo, permitindo mapear e compreender com maior profundidade as conexões e relações entre os diversos atores envolvidos nessas operações fraudulentas.

Em que pese que a proporção das transações ilícitas no volume total de ativos virtuais caiu de 0,61% em 2023 para 0,14% em 2024, os valores recebidos por endereços notadamente de atores maliciosos perfizeram o expressivo montante de US$ 40,9 bilhões, que, na realidade, com base em estimativas reais de atividade criminal de difícil caracterização, devida à pseudonimidade da tecnologia blockchain, pode crescer para US$ 51 bilhões.

Uma das mudanças mais notáveis é a crescente dominância de stablecoins em atividades ilícitas, superando o Bitcoin como o ativo virtual preferido da criminalidade. Nesse sentido, em 2024, as stablecoins representaram 63% do volume total de transações ilícitas, um salto significativo que reflete sua popularidade crescente no ecossistema de ativos virtuais, com um aumento ano a ano de 77% na atividade geral.

O relatório destaca que, enquanto o Bitcoin era inequivocamente a criptomoeda de escolha entre criminosos até 2021, devido à sua alta liquidez, houve uma diversificação constante desde então, com stablecoins assumindo a liderança em crimes como fraudes, lavagem de dinheiro e evasão de sanções. Sem embargo, o Bitcoin ainda mantém relevância em nichos específicos, como extorsão criptoviral e vendas em mercados da darknet, onde sua liquidez e aceitação continuam valiosas.

Essa mudança é atribuída à estabilidade e praticidade das stablecoins, que são atreladas a ativos como o dólar norte-americano, tornando-as ideais para criminosos que buscam evitar a volatilidade do Bitcoin e facilitar transações de grande escala, ou, ainda, para burlar sanções impostas por governos e órgãos internacionais, dada a relativa facilidade de movimentar valores sem a intermediação de sistemas bancários tradicionais, bem como a possibilidade de contornar controles de capital.

O relatório ressalta que, em 2024, as fraudes relacionadas a investimentos e golpes que se valem de engenhosidade social, como o “pig butchering”, continuaram a crescer. Essa modalidade, que combina persuasão emocional e promessas de retornos rápidos, mostrou expansão de quase 40% em relação ao ano anterior. Com o uso de ferramentas de inteligência artificial, os criminosos têm aprimorado a abordagem e criado perfis falsos mais convincentes, elevando o risco de engajamento de vítimas menos atentas às melhores práticas de segurança.

Em continuidade, o relatório destaca o avanço e a sofisticação de serviços de lavagem de dinheiro especializados, que vão além dos tradicionais mixers e passam a oferecer soluções “sob medida” para criminosos. Essas plataformas auxiliam na conversão de ativos em stablecoins, na segmentação de valores e no uso de bridges entre diferentes blockchains, dificultando o trabalho dos órgãos de investigação.

Em paralelo, o estudo ressalta a atuação de grupos ligados a Estados-nação, que utilizam criptomoedas para financiar espionagem, ciberataques e até mesmo programas armamentistas. Esses agentes combinam métodos tradicionais de infiltração com recursos tecnológicos avançados para movimentar valores sem detecção. A capacidade de adaptação desses grupos reforça a importância de estratégias de defesa e cooperação internacional cada vez mais robustas.

Por fim, o relatório aborda a manipulação de mercado (como esquemas “pump-and- dump”), que continua afetando tokens recém-lançados e explorando a vulnerabilidade de investidores menos experientes. A utilização de bots de negociação para criar volumes artificiais de troca, juntamente com campanhas de marketing agressivas em redes sociais, sustenta práticas fraudulentas que, apesar de amplamente conhecidas, ainda encontram vítimas dispostas a arriscar quantias significativas em busca de lucros imediatos.

O Report demonstra que a criminalidade vem se sofisticando, o que tem aberto novos horizontes para a operação de esquemas ilícitos e exigido uma resposta igualmente avançada das autoridades e do setor privado. Essa evolução não apenas ressalta a adaptabilidade dos agentes maliciosos — que se valem das nuances da tecnologia blockchain para ocultar suas atividades —, mas também evidencia a importância de aprofundar o estudo e o conhecimento técnico desse ambiente. A natureza programável e transparente do blockchain, embora explorada para fins ilícitos, permanece um instrumento crucial para rastrear fluxos e desmantelar redes criminosas. Assim, a integração entre inovação tecnológica, educação, aprimoramento dos métodos investigativos e cooperação internacional se mostra indispensável para enfrentar um cenário em constante transformação, onde a sofisticação do crime exige estratégias igualmente refinadas e adaptáveis.

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